Primeiras famílias recebem selo “Autista a Bordo” após regulamentação em Cambé
Projeto propondo a identificação de veículos que transportam pessoas com TEA foi aprovado na Câmara em agosto: inclusão e segurança
O pequeno Gael Nascimento Godoy, de seis anos, é autista suporte um. No trânsito, ele e a mãe, a autônoma Cibele Renata Rosa do Nascimento, já enfrentaram diversas situações desafiadoras. “Já teve caso em que o Gael estava agitado, tive que parar e os motoristas que vinham na sequência não entendiam, buzinavam, não exerceram a paciência”, relatou. Agora, ela e outras famílias de pessoas com autismo esperam que a conscientização comece a ganhar espaço nas ruas de Cambé com a implantação do selo “Autista a Bordo”.
A iniciativa, que identifica veículos que transportam pessoas diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista), foi aprovada na Câmara Municipal em agosto e regulamentada em outubro. Na segunda-feira (1º), os primeiros adesivos foram entregues oficialmente às famílias durante um evento no Legislativo.
Entre os contemplados está o agente de trânsito João Quaresma da Silva. Ele e o filho são autistas. Para o servidor público, a medida tem impacto direto na segurança. “O selo é um grande passo, não só para identificar veículos que transportam pessoas autistas, mas para ajudar no socorro em situações de emergência. Um bombeiro, por exemplo, sabendo que tem uma criança ou adulto autista, terá uma maior capacidade de conduzir o atendimento”, destacou.
A autora do projeto, a vereadora Patrícia da Farmácia (PL), reforça que o objetivo vai além da identificação. “É uma forma de acolhimento para todas as famílias atípicas. As pessoas que estão nas ruas devem entender e acolher a família no momento de crise de uma criança e não ficar buzinando”, frisou. Segundo ela, o selo tem caráter informativo e visa promover respeito e compreensão no trânsito.

De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, Cambé possui aproximadamente 500 pessoas diagnosticadas com TEA, enquanto outras dezenas de casos seguem em avaliação. Para Marelisa Regina Gomes, presidente da Associação dos Autistas de Cambé (ADAC), o selo pode contribuir para evitar crises. “As crianças têm uma sensibilidade maior e trânsito é estressante. Buzinas e sons muito altos podem desencadear uma crise. Com o selo, a pessoa, vendo, já pode ter a reflexão de abaixar o som, de evitar buzinar, gritar. Tudo isso evita gatilhos de crise”, comentou.
DOCUMENTAÇÃO
A emissão do adesivo é destinada exclusivamente a moradores diagnosticados com TEA e pode ser solicitada pelo próprio usuário, responsável legal ou pessoa autorizada, desde que o veículo esteja registrado em nome de um deles. Para obter o selo, é necessário apresentar documento de identidade, laudo médico ou carteirinha que comprove o diagnóstico, comprovante de residência e documento do veículo. Após análise da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Trânsito (SESTRAN), o adesivo é emitido e deve ser fixado em local visível. Cada pessoa com TEA tem direito a um selo.

GERAR EMPATIA
Os vereadores avaliam que a iniciativa abre portas para novas políticas inclusivas no município. “É necessário termos uma conscientização cada vez maior como sociedade e promover a inclusão de todas as formas possíveis”, afirmou o presidente da Câmara, Odair Paviani (PL). Para Pi da Terraplanagem (MDB), a proposta “facilita a vida das famílias e gerar empatia”. “O projeto foi uma ‘batalha’ na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em relação à constitucionalidade. Feliz com o resultado que estamos vendo”, celebrou o vereador André do Carmo (PL).
Mesmo não sendo obrigatório, o selo pode influenciar diretamente na preservação de vidas, segundo os parlamentares. “É um gesto que parece pequeno, mas que na realidade é de um valor grandioso. A partir do momento em que a pessoa nasce em nosso município, tem o mesmo direito do outro”, ressaltou a vereadora Viviani Vallarini (PSD). Já para o vereador Dr. Fernando Lima (União), “é algo que tem um impacto gigantesco na vida das famílias”. “Que venham outros projetos inclusivos nesta Casa”, complementou a vereadora Ellen Affonso (União).







